Monday Jul 03, 2023

À Espera do Ultimato dos Educadores. Conversa com Maria do Carmo Vieira

Depois de ser dispensada do programa das aulas de português, estava na altura de trazermos de volta essa figura tão malquista como crucial d’Os Lusíadas, esse grande dissidente face aos desvarios de uma certa nobreza que continuamente nos leva a embarcarmos como ratos na nau catrineta das suas fantasias. Numa época de apoucamento da língua, de cedência a toda a ordem de facilitismos, manigâncias e baldrocas, convém mesmo expulsar quem tem muito claro onde tudo isto nos leva. “Lá vem a Velho do Restelo”, dirão alguns. “Por sinal velha e também do Restelo, desde longa data, para além de fiel leitora do poeta, criador da venerável figura”, assim se reconhecia Maria do Carmo Vieira numa das suas crónicas no Público. Quando estamos todos à espera que os professores por fim percam as estribeiras, e imponham uma ruptura verdadeiramente dolorosa num esforço para salvar a escola pública, quisemos falar com uma mulher que soube assumir uma postura exemplaríssima e até às últimas consequências, vendo-se obrigada a abandonar a profissão a que dedicou toda a sua vida, reconhecendo que não podia fazer outra coisa senão desobedecer, não acatar ordens de lacaios imbecilizados pelo poder, salvando-se da degradação a que hoje toda aquela classe é submetida, numa altura em que o próprio país não percebe que a paixão está reservada àqueles que souberam e sabem arriscar, em grandeza e miséria, “a sua vida inteira, todos os dias”. E que esse é o verdadeiro sentido da liberdade, que exige tudo e é sempre difícil, e que deveria ser o requisito essencial de quem assume a tarefa de transmitir às gerações seguintes os conhecimentos que nos fazem sentir o balanço desta nossa aventura comum.

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