Friday Dec 22, 2023
Ensaiar formas de dizer "Não". Conversa com Maria Lis e Fernando Ramalho
Nas vésperas deste episódio, o Frederico tomou-se de um febrão daqueles que até os ossos amolecem, e que excitam o tipo de delírios que depois não se podem reproduzir, assim, amarrado à cama como um possuído, desta vez deixou o lugar ao Fernando Ramalho, espécie de Robinson destas saídas à cata do inesperado. Numa altura em que só precisamos de uma rajada mais forte para cair da muralha, abandonar a meio o turno, aí onde cumprimos funções face a um regime cada vez mais precário, cada vez mais sórdido, e que ainda assim nos vai extorquindo o dia seguinte, onde vamos buscar a música suficiente para dançar a vida é a estes encontros em que a angústia comum encontra ânimo de modo a superar esse vazio a que nos dizem destinados. Aporrinhados pelas obrigações destes dias, acabámos por falar em Cristo, mas sem nos juntarmos a algum coro de Natal, e em vez de uma missa do galo, esta missa deu numa cabidela dos diabos. É o 33.º episódio, são já tantos quantos os anos daquele que foi daqui, meio esburacado, e que hoje vai sendo usado pelos da "família" mais para dissuadir outros da via da paixão, que é sempre radical. E desta vida que anda tão difícil mesmo só de levar com ela, alguns perguntam-se: Para onde havemos de sair se em nós já não há uma suficiente soma de delírio? Talvez o sacrifício e a morte sejam hoje tudo aquilo que de uma verdadeira religião ainda nos resta. Mas isto não tem necessariamente de nos levar ao desespero. Como disse um sábio desses sem grande saída nos nossos dias: "Um homem (que vive com a ideia da sua morte) não deseja absolutamente nada porque adquiriu um apetite silencioso pela vida e por todas as coisas da vida. Sabe que a morte não lhe dará tempo para se agarrar ao que quer que seja, e isso faz com que, sem sentir um desejo obsessivo por nada, tente a totalidade de todas as coisas." Em busca de um alento e de uma experiência de recusa, virámo-nos desta vez para Maria Lis, poeta e educadora no sentido mais lato e inquietante do termo, alguém que acaba de ter a sua estreia com o livro "Turbulenta Forma", que traz uma frescura regeneradora a este género já tão cansado, alguém que se habituou a desdobrar o espaço, e que anda muito, muito mesmo, enquanto nos canta coisas que vão do embale ao desarme em menos de nada.
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